Viagens, culturas, aventuras, montanhas, escaladas, trilhas, fotografia e filmes da natureza.

“Para viajar basta existir. ... Fernando Pessoa

20 de outubro de 2010

O Circuito Alternativo da Cordilheira Huayhuash



A caminhada ao redor da Cordilheira Huayhuash é conhecida por ser uma das mais deslumbrantes do mundo. O que presenciei só confirmou a fama desse trekking impressionante que possui pelo menos uma passagem acima dos 4500m por dia. Aliado a um grupo ousado e sintonizado, realizamos alguns caminhos alternativos proporcionando uma adrenalina extra a esta fascinante jornada.



Após minha tentativa frustrada de realizar o circuito alto por conta própria e quase dois meses escalando na Cordilheira Blanca, contratei uma agência para realizar o trekking. O grupo foi composto de dois espanhóis, Leire e Santi, dois irlandeses, Alan e Wayne, o guia-cozinheiro Toño e o arrieiro Severo.



Todos os caminhos alternativos indicados no mapa e mais alguns foram postos em prática. No final do primeiro dia de caminhada, depois de alguns contratempos e muita chuva de granizo, Toño, o guia cauteloso, chegou a declarar que deveríamos seguir pelo caminho normal nos próximos dias. No segundo dia, um outro grupo também seguiria pelo caminho alternativo. Sem argumentos, foi fácil seguir a não normalidade. No terceiro dia, ele entrou no espírito desbravador do grupo.



Mesmo quando não havia um caminho alternativo, "criamos" um. O desvio foi feito no intuito de não pagar a taxa de uma comunidade que cobra 35 soles pela passagem.



As comunidades por quais passamos cobram uma taxa, às vezes passamos por mais de uma por dia. A origem das taxas tem um histórico violento, no início dos anos 80, o grupo terrorista Sendeiro Luminoso utilizou as terras como base remota. Mesmo após sua derrota em 1992 ainda ocorriam roubos e até assassinatos na região. Em 2004 um roubo resultou na morte de um turista, as comunidades começaram a cobrar uma taxa de "proteção" para passar por suas propriedades e de fato algumas colocavam vigias nos acampamentos. Desde então, a região foi considerada segura.
Enquanto não há providências de força maior, fizemos valer nosso direito de ir e vir.



Por estar com transporte privado, acampamos o primeiro dia diretamente em Cuartelhuain. Começamos a caminhar somente no segundo dia. Logo após a primeira passagem Cacananpunta (4700m) nos desviamos à direita e descemos diretamente à lagoa Mitococha. Acompanhamos a beira da lagoa pelo lado esquerdo e subimos em direção ao fundo do vale. Alcançamos a passagem mas ficamos em dúvida, seguindo totens conseguimos atravessar um outro vale para descer em direção ao lago Carhuacocha. O acampamento tem uma bela vista dos picos Jirishanca, Yerupajá e já do Siula Grande.


Acampamento Carhuacocha: Siula, Yerupajá Grande e Chico e Jirishanca

No terceiro dia o caminho alternativo é mais conhecido e tivemos a companhia de um outro grupo. O caminho das "tres lagunas" Gangrajanca, Siulacocha e Quesillococha passa perto dos picos do Siula, Carnicero e Jurao. Acampamos na vila Huayhuash em um vale amplo e encantador.


Almoço com vista para as três lagoas

O desafio do quarto dia foi atravessar o Paso Trapecio (5010m) e alcançar a fascinante vista do Paso San Antonio. Depois de seguir mapa e totens à passagem Trapecio nos deparamos com duas opções. Toño dizia para descer, passar pela lagoa que avistávamos e depois ascender ao paso San Antonio novamente. Alan foi verificar alguma possível passagem por cima. Wayne foi atrás e os acompanhei montanha acima. Acabamos nos separando de Toño, Leire e Santi que seguiram por baixo. Alan encontrou uma ponte de terra no meio do glaciar e pudemos passar sem dificuldades. Começou a nevar. A terra sob os nossos pés formou um lodo que grudava nas botas e deixou nossas passadas mais pesadas. Cruzamos alguns trechos entre gelo e rochas até alcançar a crista para mais uma vista fantástica. Ouvimos uns berros e vimos três figuras em uma outra passagem ao longo da crista bem abaixo. Tínhamos subido muito além! Levamos um tempo para reunirmos o grupo novamente.



Cansados, descemos um vale interminável até encontrar Severo que nos esperava com o acampamento armado em Huanacpatay. Ouvimos de um espanhol que desapareceu nessa região, infelizmente alguns dias depois encontraram seu corpo. Ele havia caído de um abismo de 100 metros.

Dia seguinte, quinto dia de trilha, continuamos a descer o vale, mas antes de cruzar com o povoado de Huayllapa, Alan e eu subimos pela montanha para um desvio à cobrança do pedágio. A subida pelos pastos foi dura. Os degraus que víamos a distância se tornavam muros a nossa frente. A vegetação seca porém resistente dificultava nossa ascensão. Passados esses obstáculos encontramos uma vegetação rasteira e dessa vez moscas nos atazanavam. Algumas horas depois, nos reunimos com o pessoal no acampamento Huatiac.



No sexto dia o desvio ficou por conta de Wayne e Alan que chegaram mais próximo ao pico Diablo Mudo. Passamos pelo tranquilo Punta Tapush a 4800m e acampamos em Qashpapampa, um dia bem curto.

Na madrugada Leire e Santi atacaram o cume do Diablo Mudo com o guia Marco, enquanto eu, os irlandeses e Toño fomos complicar o caminho para a Jahuacocha por uma passagem alternativa a Punta Yaucha. Subimos mais à direita da passagem normal e tivemos uma vista fantástica da Cordilheira.


A Cordilheira Huayhuash desde Rondoy ao Diablo Mudo

A descida ao acampamento Jahuacocha foi tranquila. O acampamento fica às margens da lagoa com os picos Rondoy, Jirishanca e o grande Yerupajá ao fundo. De lá já conhecia o caminho de volta a Llamac, onde pegamos o ônibus para Huaraz.



Finalizamos o circuito em oito dias, com muitas fotos e histórias para contar que vão além do caminho normal. A Cordilheira Huayhuash proporciona amplas vistas, lagoas ofuscantes, magníficas escaladas em gelo e um contato com a vida rural andina do Peru.


A comunidade Huayhuash

2 comentários:

  1. eu tb fiz a cordilheira huayhuash. foi no ano passado em julho. um trekking muito lindo!! legal teu blogue, emi!! abração!

    ResponderExcluir
  2. Contrataram guia e arrieiro, por meio de uma agência, e sairam da trilha com intuito de não pagar o pedágio...isso de alternativo não tem nada, foram lá parasitar, e quem burla as normas locais não vale um caramelo!!

    ResponderExcluir